Palabras do Gobernador do Estado de Paraná,
Roberto Requião no Seminário da Bacia do Prata.

"É um prazer enorme participar de mais esta reunião que constrói a unidade dos nossos países latino-americanos. Fundamentalmente o Cone Sul, mas se expandindo já com força irreversível, mais adiante. O meu papel hoje aqui é fazer um relato e construir algumas opiniões sobre a petição comum da Bacia do Prata.

Eu diria que uma das soluções mais gratificantes do meu mandato como Senador foi o exercício da presidência brasileira e internacional da Comissão Parlamentar do Mercosul. A integração regional tem sido, para mim, uma obsessão.

Se de um lado eu brinco, luto e defendo a necessidade de nós brasileiros construirmos nossa identidade nacional, o Brasil Nação, o Brasil para nós, o Brasil para o povo em oposição aquele velho conceito revelado por Caio Prado Junior, nosso historiador, do Brasil empresa para os outros, entendo que a construção desse Brasil está intimamente ligada ao fortalecimento da integração regional.

Seremos fortes, seremos independentes, seremos soberanos e prósperos se o conjunto desses países, desse Sul da América, fundirem suas preocupações, integrarem as suas ações nos mais diversos campos. Por exemplo, na área de influência da Bacia do Prata, tema desse nosso encontro.
Na verdade essa bacia, que integra Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai é uma referência pedagógica no entrelaçamento dos nossos destinos. Não há como pensar o Brasil e outros países, não há como pensar cada país apenas na sua cota da bacia, na parte que o banha. Não há como represar essa cota, separando-a do conjunto que forma a Bacia do Prata. Quer dizer, isso nos ensina que a integração é essencial para a sobrevivência.

No entanto, o que me angustia e freqüentemente me faz até mesmo perder a paciência, são os trâmites demorados, as discussões que se arrastam, as ações que se adiam. Nem sempre temos avançado na mesma velocidade com que agem os depredadores dos nossos rios, dos nossos recursos hídricos, das nossas florestas e do meio ambiente em que vivemos.

É impressionante a rapidez com que se destrói e ainda me parecem lendas, travadas, presas às ações para contrapor a barbárie dos agressores. Da parte que nos cabe, da parte que cabe ao governo do Paraná, gostaria de fazer, às senhoras e aos senhores, um breve relato das nossas ações que concorrem para a melhoria da Bacia do Prata.

Estamos desenvolvendo um amplo programa de reposição da mata ciliar dos nossos rios, o objetivo é plantar 90 milhões de árvores até dezembro de 2006, no fim do meu mandato. Nos 15 meses de vigência desse programa, plantamos 18 milhões de árvores às margens dos nossos rios e cursos de água.

Lançamos o programa estadual de recursos hídricos, cujo objetivo é a gestão descentralizada e participativa das bacias hidrográficas paranaenses. Para chamar a participação da sociedade e de suas organizações, estamos instalando comitês e agências de bacias, quer dizer, ao mesmo tempo, que descentralizamos a gestão, democratizamos essa mesma gestão.

Já o plano estadual de recursos hídricos realiza um estudo detalhado do nosso potencial hídrico e hidrelétrico, um conhecimento indispensável para orientar ações de governo. O programa Desperdício Zero tem como meta o fim dos lixões a céu aberto e a redução de pelo menos 30% de todo o lixo do estado do Paraná. Como vocês vêem não é uma meta ambiciosa, mas é segura e possível.

A merenda escolar orgânica é outra iniciativa do nosso governo. O estado do Paraná compra em média 1,3 milhão de refeições por dia aos alunos da rede de ensino público e o nosso Paraná é o segundo maior consumidor brasileiro de agrotóxicos. Nós temos 2% da área do território nacional e colhemos cerca de 25% a 27% dos grãos que o país produz e isso nos transforma num estado consumidor de agrotóxicos.

Com a merenda orgânica queremos abrir espaço de mercado à agricultura que não usa agrotóxicos e dessa forma prevenir contaminações. Quanto menos agrotóxico nas lavouras, menor envenenamento das nossas bacias hidrográficas.
Nesse mesmo sentido estamos implantando ainda uma enorme fazenda agro-ecológica, que será um centro de pesquisas de ensino e treinamento para os pequenos agricultores. Eu, como governador hoje, tenho minha residência nessa fazenda, o que demonstra a importância que nós damos a esse projeto.

O outro programa é o zoneamento ecológico econômico do Paraná. O objetivo é estudar o meio físico, biológico e as ações humanas no estado, propondo iniciativas para reduzir o impacto das intervenções do ambiente e a recuperação do ambiente degradado.

O programa Corredores da Biodiversidade é uma das iniciativas que mais nos entusiasma. Aqui o objetivo é estimular a biodiversidade, de reduzir agressões ambientais através da construção no estado de três grandes corredores.
O Corredor Araucária, nossa árvore símbolo, no Sul do estado, o Corredor Iguaçu no Oeste e o Corredor Caiuá Ilha Grande do Noroeste. A área abrangida pelos corredores é de 2,3 milhões de hectares, mais de 13% do território do Paraná. Nesses corredores veremos os rios, as matas e a fauna renascerem, veremos a vida renascer.

Já o programa de recolhimento de embalagens de agrotóxicos tem avançado de forma extraordinária, somos hoje o estado brasileiro que mais retira do ambiente as embalagens de agrotóxicos, 82% das embalagens utilizadas pelos agricultores estão sendo retiradas hoje. Isso sem sombra de dúvida é um ganho inestimável para meio ambiente e para a própria saúde dos nossos agricultores.

O Programa de Saneamento Ambiental promove, com recursos do Banco Mundial o saneamento de propriedades de suinocultores paranaenses. São milhares de propriedades em que o estado atua, evitando a contaminação hídrica e do solo. Aliás, a suinocultura é um vetor extraordinário de poluição e quem conhece a suinocultura extensiva da China tem uma impressão concreta da loucura e do absurdo que são essas fazendas extensivas de produção de suínos.

São esses alguns dos programas que o Paraná desenvolve para preservar ou recuperar os nossos cursos de água, as nossas bacias hidrográficas, contribuindo para a própria melhoria da qualidade ambiental da Bacia do Prata. Poderia citar ainda outros programas que desenvolvemos na área da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento, que também contribuem para a preservação e descontaminação dos nossos rios.

Práticas como plantio direto. O Paraná hoje é o estado do plantio direto, embora nós tenhamos um problema com o plantio direto. Antes dessa prática, na minha administração anterior, instaurei as curvas de nível e o agricultor não tomou muita consciência de que mesmo com o plantio direto, que hoje ocupa praticamente toda nossa agricultura, não se pode desprezar o velho e eficiente projeto das curvas de nível e das contenções.

Práticas como o plantio direto, o terraceamento das lavouras, a readequação de estradas rurais para evitar erosão, a psicultura, nós temos hoje um investimento de R$ 17 milhões de reposição da vida em rios e baías do estado do Paraná. Readequação de estradas rurais, psicultura, micro-bacias, são ações concretas ativas no sentido da preservação e recuperação do meio ambiente.

Por fim cito a firme posição do governo paranaense em relação aos transgênicos. Nós fizemos uma análise aprofundada da conseqüência da expansão da soja transgênica no mundo e em primeiro lugar nós não queremos transformar o nosso país numa estrutura feudal, onde vassalos pagavam aos suzeranos para plantar as suas próprias sementes na sua própria terra.

Depois nós examinamos o que vem ocorrendo com o mercado nos últimos anos. Os EUA perderam 41,5% das suas exportações. De 16 milhões de toneladas caiu para 9 milhões de toneladas. Exportavam mais ou menos 5,5 milhões de toneladas para a China que passou a comprar 2,2 milhões. A queda foi maior na União Européia.

Mas vamos a produtividade norte-americana. Os americanos hoje estão conseguindo 2,2 mil quilos por hectare e as sementes convencionais brasileiras, múltiplas, diversas, plantadas no Paraná, nos dão a média de 3 mil quilos por hectare, contra por exemplo, 1,6 mil quilos no ano passado da colheita do Rio Grande do Sul. Bom, quando Senador da República, denunciei no plenário do Congresso Nacional que transnacionais, que comerciavam com grãos, estavam pagando para que agricultores brasileiros não plantassem soja. Era um momento de grande produção no mercado mundial.

Não plantar porquê? Porque a convencional tinha uma aceitação universal, o que já não acontecia naquela época, não tão distante, com os grãos transgênicos norte-americanos. Denunciei e impedimos que isso acontecesse.

Agora vejam vocês, se nós descemos ao nível da qualidade parcialmente rejeitada pelo mundo da transgenia norte-americana, como é que vamos competir com os EUA no momento de uma grande safra, de abundância, se vendemos a mesma coisa? E se sabemos, por antecipação, que os EUA financiam 40% do seguro agrícola e pagam hoje, mesmo na crise, um preço mínimo de US$ 5,75 por bushel, bushel é a medida deles, de 27,5 quilos. Sem transporte os armazéns norte-americanos aceitam a soja no município que planta e ali é retirada pelo comprador, num outro armazém, em qualquer outro lugar do país. Nós não teríamos como competir.

É evidente que no momento que faltar soja no mundo, faltar comida, o mundo compra, sem nenhum preconceito qualquer tipo de soja “comeremos ratas, se nos faltar algo para alimentación”. Mas quando a abundância for à generalização do momento, se compra qualidade. Então o que tenho dito aos agricultores do Paraná é que devem evitar a soja transgênica, porque nós estamos tendo um crescimento de exportação em cima do vazio provocado com o recuo da exportação norte-americana no mundo.

Produtividade mais alta e estamos verificando, através de pesquisas em sistemas, que no primeiro e no segundo ano, numa terra mal tratada, o glifosato, aparentemente nos dá algum ganho de produtividade, mas os insos, ou seja, as pragas, inso é como os gaúchos dão o nome as pragas da lavoura, vão adquirindo resistência e logo, logo, como ocorre hoje nos EUA, o coquetel não é mais o coquetel formulado apenas por glifosato, mas ele se amplia para uma variedade enorme de agrotóxicos a medida que a resistência das pragas vai aumentando.

Não é um bom negócio, mas é fundamentalmente bom negócio para o domínio da agricultura no mundo e ao lado do velho princípio da precaução – caldo de galinha e precaução não fazem mal a ninguém –, da falta de pesquisas conseqüentes sobre o uso da soja transgência, existe esse consistente aspecto econômico.

O Paraná não planta soja transgência, o governo federal paradoxalmente, através do Ministério da Agricultura, tentou introduzir, nós chamamos a atenção dos agricultores e no último balanço da área plantada no Paraná, a soja transgênica ocupa qualquer coisa entre 0,2% ou 0,3%, ou seja, não chega a 0,5% da área plantada.

E uma última precaução, que é precaução importante também. Nós temos 50 anos de pesquisas de semente no Brasil, pesquisa pela seleção das variedades resistentes. Hoje, se uma determinada praga atinge uma lavoura, nós fazemos a seleção genética. Primeiro tentamos resolver o problema quimicamente, se não existe a solução química, nós separamos essas sementes, não plantamos mais, ou melhor, plantamos numa determinada localização e vamos procurar indivíduos dessa espécie, dessa cepa, que sejam resistentes a praga, que não conseguimos curar com agrotóxicos.

É uma seleção demorada, mas nós podemos resgatar a cepa pela seleção genética. Se nós entrarmos na aventura de uma semente só, de somente uma empresa, nós podemos ter, é muito provável que tenhamos, num futuro muito longínquo, o fim do ciclo da soja dos nossos países, porque nós, quando isolamos uma cepa para viabilizar a seleção genética da resistência temos 40, 50 sementes passíveis de serem utilizadas no acervo da pesquisa nacional.

Agora, se temos uma semente só, a crise pode ser o fim de um ciclo como já foi para o Brasil, o fim dos ciclos da madeira, do ouro. Fim do importante ciclo econômico. A nossa oposição à soja OGM (geneticamente modificados) então, além das razões comerciais, tem fundas razões de defesa da nossa soberania, da defesa dos nossos agricultores contra o avanço monopolista da tecnologia OGM.

Nós temos no mundo hoje quatro empresas que se dedicam a isso, mas a nossa heróica Monsanto detém mais de 80% de todas as patentes. Preocupamo-nos também com a ameaça que essa monopolização transgênica representa para a biodiversidade e, decididamente hoje, seguramente o que representa de incremento paradoxalmente ao uso de agrotóxicos e ao impacto ainda não suficientemente avaliados sobre o meio ambiente, tomado aqui em toda sua extensão e complexidade.

Talvez os senhores não saibam, provavelmente alguns saberão, mas as principais empresas produtoras de alimentos do mundo deixaram de incluir produtos geneticamente modificados nos seus formulados, entre elas a Nestlé, a Coca Cola... as principais. Num bloco se manifestaram, há cerca de 20 dias atrás na Europa, vetando definitivamente o uso de transgênicos e os animais alimentados com transgênicos estão tendo uma dura resistência do mercado europeu.

Isso fez com que os setores, que produzem frango no Paraná, que são enormes, recuassem definitivamente e vocês vão encontrar out-doors, faixas de campanha contra o uso de transgênicos na região porque temem, as cooperativas, perder o acesso privilegiado que tem ao mercado europeu.
A contribuição do Paraná para a Bacia do Prata tem essas características. Estamos fazendo nossa parte e gostaríamos de integrar as nossas ações, de outros estados brasileiros e as ações dos países que compõem a bacia.

Como eu disse no começo, sós, isolados, muito pouco avançaremos. Se conseguirmos construir uma unidade, resistiremos a velocidade da predação. O Paraná organizou e mantém hoje uma Força Verde, composta pelo batalhão da Polícia Florestal e pelo Instituto Ambiental do Paraná (Iap), que sobrevoam o nosso território com dois motoplanadores Chimango com motores austríacos, excelentes para observação e chegam a ter até onze horas e meia de autonomia de vôo, em baixa velocidade, um skyleme, dois helicópteros e o pessoal de terra, que se orienta pela sinalização aérea dos GPSs.

Estamos jogando duro na preservação da natureza, mas nos contrapomos aqueles que imaginam os nossos países como empresas, empresas para os outros, não para nós. Aliás, Hélio (de Macedo Soares, membro da CIC), a globalização começou no mundo, no Brasil.

O primeiro produto globalizado da história da humanidade foi à cana-de-açúcar, plantada no Brasil por portugueses, holandeses e ingleses, com mão-de-obra escrava, mão-de-obra nativa, por populações que vinham fazer o Brasil, sempre na perspectiva de regressarem bem aos seus países de origem e é a contradição que nós vivemos, talvez maior que a própria contradição da preservação da natureza, a contradição entre o mercado e a nação.

O mercado tem características especiais. Ele se movimenta com a velocidade extraordinária da cibernética, transfere capitais e tem um único e exclusivo objetivo, o lucro. A nação se contrapõe a essa idéia porque tem território, os territórios nacionais mantidos ao longo da nossa história com sangue dos nossos povos. Portanto tem espaço que o mercado não tem, o espaço do mercado é o espaço da bolsa e o espaço do lucro.

A nação tem história, a história anterior já construída, a história que estamos construindo e a essa história nós chamamos de processo civilizatório, característica singular de cada país e tem definições antigas. A responsabilidade dos humanos, que não são consumidores, apenas contribuintes, mas acima de tudo são cidadãos, com direitos, com deveres, com processos civilizatórios comuns.

E o que se contrapõe no mundo hoje, se contrapõe as políticas nacionais, que são as políticas de solidariedade, de amor e integração é a idéia fria, crua e única do mercado de lucro, portanto eu vejo também essa possibilidade de conversarmos sobre o Mercosul, sobre a integração latino-americana, também com a possibilidade de construirmos, somando as nossas singularidades nacionais, o espaço formidável de cidadania latino-americana. Obrigado."


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